O Tupinambá (ou Tupí Antigo), falado na maior parte da costa brasileira quando da chegada dos europeus, é a língua indígena que mais interesse desperta entre os brasileiros, devido ao papel que desempenhou na história do país e à influência que teve no português brasileiro. Este interesse -- entre lingüistas e não-lingüistas -- traduz-se comumente em tentativas amadorísticas de se determinarem "etimologias" para os vocábulos de origem supostamente Tupinambá. Tais esforços, feitos sem um conhecimento profundo da gramática e do léxico Tupinambá, comumente resultam em análises fantasiosas, sem o devido respaldo lingüístico e histórico.
Novidades na Biblioteca Digital Curt Nimuendajú, uma coletânea digital de artigos e livros raros sobre línguas e culturas indígenas da América do Sul
Friday, October 8, 2010
Thursday, October 7, 2010
A língua Tapirapé (Almeida, Irmãzinhas de Jesus & Paula 1983)
A Biblioteca Digital Curt Nimuendaju acaba de adicionar a seu acervo o livro A língua Tapirapé (mais uma excelente contribuição de Alexandro Ramos, de Curitiba). Publicado originalmente em 1983, o livro representa uma amostra do conhecimento lingüístico das Irmãzinhas de Jesus, que convivem com a tribo deste 1952, e de Luiz e Eunice de Paula, que vêm se dedicando à educação Tapirapé desde os anos 70.
Wednesday, October 6, 2010
Projeto da UFRJ digitaliza a Coleção Brasiliana
Um projeto da Universidade Federal do Rio de Janeiro está digitalizando a Coleção Brasiliana, publicada originalmente pela Companhia Editora Nacional entre 1931 e 1993. A Coleção reúne 415 volumes, abrangendo trabalhos em história, geografia, antropologia e lingüística, entre outras áreas do conhecimento (muitos deles, fontes históricas essenciais para os estudos brasileiros).
Wednesday, September 22, 2010
Obras do Frei Mansueto Barcatta de Val Floriana, sobre o Kaingáng (1918, 1920)
Em seu primeiro editorial à frente da Revista do Museu Paulista (tomo X, 1918), o historiador Affonso d'Escragnolle Taunay anunciava novos rumos para a publicação. "Até agora," -- escreve Taunay -- "quasi exclusivamente, foi uma revista de Zoologia", refletindo os interesses dos naturalistas Hermann e Rodolpho von Ihering, que a editaram nos seus primeiros vinte anos. Taunay prevê uma revista de temática mais diversificada, publicando, "sem distincção especial, contribuições que se refiram não só a todas as sciencias naturaes como á biologia em geral e á archeologia paulista."
Tuesday, August 31, 2010
Sobre a língua Aruã (Arawák)
Em 1877, em Afuá, na Ilha de Marajó, o naturalista Domingos Soares Ferreira Penna (1818-1888) -- mais conhecido como fundador do que é hoje o Museu Paraense Emilio Goeldi -- coletou uma lista de palavras e frases da língua Aruã, "colhidas da bocca do ultimo representante desta tribu extincta". Publicada em 1881 nos Archivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, a lista (contendo um total de 224 itens) vem a ser, ao que parece, a única fonte publicada sobre esta língua, pertencente à família Arawák (ao contrário do que supunha o próprio Ferreira Penna, que afirmava serem os Aruã "um velho ramo" dos Karib).
Biblioteca Digital do Museu Nacional/UFRJ
A Biblioteca Digital do Museu Nacional vem disponibilizando online vários itens de sua coleção de obras raras. Dentre estas, uma das mais relevantes para a nossa área é a edição em latim (1633) da história do Novo Mundo de Johannes de Laet -- Novus Orbis seu descriptionis Indiae Occidentalis.
Saturday, August 28, 2010
Karte des Rio Araguaya nach eigenen Aufnahmen bearbeitet (Krause 1911)
O livro In den Wildnissen Brasiliens (1911), do antropólogo alemão Fritz Krause, um dos mais importantes estudos etnográficos sobre os Karajá, foi digitalizado pelo projeto Google Books já há alguns anos (infelizmente, com alguns defeitos), podendo ser acessado também através do site da Biblioteca Digital Curt Nimuendaju.
Wednesday, August 25, 2010
Francisco de Paula Ribeiro e os sertões maranhenses
Tuesday, August 24, 2010
Volumes 1 e 3 da série ILLA agora online
Os volumes 1 (Indigenous Languages of Lowland South America, 2000) e 3 (Current Studies on South American Languages, 2002) da série ILLA (Indigenous Languages of Latin America) foram recentemente disponibilizados em nosso site (iniciativa de Hein van der Voort, um dos editores dos volumes). São mais de 40 trabalhos, originalmente apresentados no 49º Congresso de Americanistas (Quito, 1997), no 50º Congresso de Americanistas (Varsóvia, 2000) e no Workshop on Bolivian and Rondonian Languages (Leiden, 2000).
Saturday, July 24, 2010
Sobre as missões no Grão-Pará e Maranhão
por António Vilhena de Carvalho*
A Biblioteca Digital Curt Nimuendaju acrescentou recentemente ao seu acervo a obra Regimento & Leys sobre as Missoens do Estado do Maranhaõ, & Parà, & sobre a liberdade dos Indios, impressa em Lisboa em 1724 e que contém, entre outras leis, dois conhecidos textos do corpus legislativo ameríndio do período colonial do Brasil aplicável ao Estado do Maranhão e Pará: o Regimento das Missões, de dezembro de 1686, que confere aos missionários (em particular, ainda que não exclusivamente, jesuítas) o poder temporal, além do espiritual, sobre as aldeias dos índios; e o Alvará régio de 28 de Abril de 1688 que restabeleceu o sistema de cativeiro dos índios, pondo termo à lei de 1680, de curta duração e que para muitos não passou de letra morta, que lhes conferira a liberdade sem restrições.
A Biblioteca Digital Curt Nimuendaju acrescentou recentemente ao seu acervo a obra Regimento & Leys sobre as Missoens do Estado do Maranhaõ, & Parà, & sobre a liberdade dos Indios, impressa em Lisboa em 1724 e que contém, entre outras leis, dois conhecidos textos do corpus legislativo ameríndio do período colonial do Brasil aplicável ao Estado do Maranhão e Pará: o Regimento das Missões, de dezembro de 1686, que confere aos missionários (em particular, ainda que não exclusivamente, jesuítas) o poder temporal, além do espiritual, sobre as aldeias dos índios; e o Alvará régio de 28 de Abril de 1688 que restabeleceu o sistema de cativeiro dos índios, pondo termo à lei de 1680, de curta duração e que para muitos não passou de letra morta, que lhes conferira a liberdade sem restrições.
Sunday, July 18, 2010
Capistrano de Abreu e o rã-txa hu-ni-ku-ĩ
por Beatriz Christino*
Em 23 de outubro de 1853 no Engenho Columinjuba, localizado no então distrito de Maranguape (CE), nascia João Honório Capistrano de Abreu. Ele fez seus primeiros estudos em Fortaleza, onde viveu até 1869, ano em que se mudou para Recife. Sua atuação como intelectual ganhou impulso em 1875, quando se transferiu em definitivo para o Rio de Janeiro. Nomeado em 1879 para o cargo de Oficial da Biblioteca Nacional, permaneceu na função até 1883. Nessa data, foi aprovado em concurso para professor de Corografia e História do Brasil do Colégio Pedro II. Uma reforma educacional surgida em 1898 colocou-o em disponibilidade e afastou-o da docência. Até seu falecimento, em 1927, Capistrano de Abreu colaborou ativamente na imprensa e dedicou-se a análises históricas e etnográfico-lingüísticas.
Saturday, July 17, 2010
Rã-txa hu-ni-ku-ĩ, de Capistrano de Abreu (1914), na Brasiliana Digital
Um clássico da etnolingüística brasileira, o livro Rã-txa hu-ni-ku-ĩ: a lingua dos caxinauás do Rio Ibuaçu affluente do Muru (Prefeitura de Tarauacá), de Capistrano de Abreu (1914), acaba de tornar-se disponível online por iniciativa da excelente Brasiliana Digital, projeto da USP que visa à digitalização do acervo do bibliófilo José Mindlin (1914-2010).
Thursday, July 8, 2010
Max Schmidt (1874-1950) e a língua Umutina
O próximo dia 26 de outubro marca os sessenta anos da morte do etnógrafo Max Schmidt (1874-1950), alemão radicado no Paraguai, autor de contribuições seminais para o conhecimento dos índios do oeste de Mato Grosso e do Chaco paraguaio. Celebrando sua memória, a Biblioteca Digital Curt Nimuendaju disponibiliza, ao longo dos próximos meses, vários trabalhos de sua autoria, a começar por uma importante fonte sobre os Umutina e sua língua -- o artigo "Los Barbados o Umotinas en Matto Grosso (Brasil)", publicado em 1941 na Revista de la Sociedad Científica del Paraguay. Resultado de expedição a Mato Grosso realizada entre 1926 e 1928, o artigo é rico em informações etnográficas e lingüísticas, contendo dezenas de fotografias e um vocabulário Umutina com mais de seiscentos itens (incluindo frases).
Wednesday, May 5, 2010
'Admirable adventures' de Anthony Knivet, agora em inglês
Como lembra Sheila Moura Hue em texto publicado recentemente no blog da Biblio Nimuendaju, a primeira versão da obra de Anthony Knivet em português, publicada na RIHGB em 1878, é incompleta. Tradução indireta, a partir de uma tradução holandesa, a versão de 1878 omite justamente um dos capítulos mais ricos em informações sobre os índios do Brasil. Os usuários da Biblioteca Digital Curt Nimuendaju podem agora acessar o texto completo, no original inglês.
Wednesday, April 14, 2010
Canivete e os cortes editoriais
por Sheila Moura Hue*
A história das edições do livro de memórias do inglês Anthony Knivet (Canivete para os lusófonos) é tão curiosa quanto a própria obra.
Knivet passou cerca de dez anos no Brasil no final do século XVI. Entre outras peripécias, foi servo de um “mestiço”, escravo em uma plantação de cana-de-açúcar, desbravador dos sertões das capitanias do Rio de Janeiro e de São Vicente em busca de índios e de metais preciosos, líder guerreiro de uma população indígena, náufrago no litoral de Alagoas, soldado na conquista do Rio Grande do Norte e criado do governador Salvador Correia de Sá em Lisboa.
A história das edições do livro de memórias do inglês Anthony Knivet (Canivete para os lusófonos) é tão curiosa quanto a própria obra.
Knivet passou cerca de dez anos no Brasil no final do século XVI. Entre outras peripécias, foi servo de um “mestiço”, escravo em uma plantação de cana-de-açúcar, desbravador dos sertões das capitanias do Rio de Janeiro e de São Vicente em busca de índios e de metais preciosos, líder guerreiro de uma população indígena, náufrago no litoral de Alagoas, soldado na conquista do Rio Grande do Norte e criado do governador Salvador Correia de Sá em Lisboa.
Saturday, April 10, 2010
Biblio Nimuendaju na Revista de História da BN
Escrita por Renato Venâncio, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, a seção Acervo Digital da Revista de História da Biblioteca Nacional publicou recentemente uma nota sobre fontes online para o aprendizado do Tupí Antigo. Além de divulgar recursos disponíveis através de iniciativas como a Brasiliana (projeto de digitalização do acervo do bibliófilo José Mindlin), da USP, e a Biblioteca Digital da Universidade de Coimbra, a nota menciona a Biblioteca Digital Curt Nimuendaju:
[…] Para aprofundar ainda mais esses estudos, basta navegar em direção à excelente Biblioteca Digital Curt Nimuendaju, que disponibiliza gratuitamente obras dos principais tupinólogos brasileiros e internacionais. […]
Thursday, April 1, 2010
Obras de Stradelli e Ayrosa no Projeto Documenta, Grammaticae et Historiae (USP)
O Projeto Documenta, Grammaticae et Historiae do Centro de Documentação em Historiografia Linguística (CEDOCH) da USP, coordenado por Cristina Altman, vem disponibilizando online alguns trabalhos seminais para o conhecimento do Tupinambá e do Nheengatú, acompanhados de fichas bibliográficas detalhadas.
Além de títulos como O Selvagem, de Couto de Magalhães (1876), e a Arte de Anchieta (1595), que já haviam sido disponibilizados também através de outras iniciativas, o Projeto inclui contribuições antes inéditas em formato digital, como o Vocabulário na Língua Brasílica (anônimo, publicado por Plínio Ayrosa em 1938) e a monumental obra de Ermanno Stradelli (1929), Vocabularios da língua geral portuguez-nheêngatú e nheêngatú-portuguez, precedidos de um esboço de Grammatica nheênga-umbuê-sáua mirî e seguidos de contos em língua geral nheêngatú poranduua.
Além de títulos como O Selvagem, de Couto de Magalhães (1876), e a Arte de Anchieta (1595), que já haviam sido disponibilizados também através de outras iniciativas, o Projeto inclui contribuições antes inéditas em formato digital, como o Vocabulário na Língua Brasílica (anônimo, publicado por Plínio Ayrosa em 1938) e a monumental obra de Ermanno Stradelli (1929), Vocabularios da língua geral portuguez-nheêngatú e nheêngatú-portuguez, precedidos de um esboço de Grammatica nheênga-umbuê-sáua mirî e seguidos de contos em língua geral nheêngatú poranduua.
Thursday, March 11, 2010
Viagem ao Redor do Brasil (Fonseca 1880, 1881)
A Biblioteca Digital Curt Nimuendaju acaba de acrescentar a seu acervo os dois volumes (1880, 1881) de Viagem ao Redor do Brasil, de João Severiano da Fonseca (1836-1897). A obra resultou da participação de seu autor -- médico e militar, veterano da Guerra do Paraguai e irmão do futuro "generalíssimo" Deodoro -- na expedição da Comissão de Limites entre o Brasil e a Bolívia, que percorreu os territórios fronteiriços do velho Matto Grosso (atuais estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia) entre 1875 e 1878. Importante para o conhecimento da história do oeste brasileiro, a obra é também uma rica fonte de dados etnolingüísticos.
Além de descrever costumes de povos indígenas com os quais a comissão entrou em contato, como os Chiquitano e os Palmela, Severiano da Fonseca inclui vocabulários de várias línguas indígenas faladas no Brasil e na Bolívia (Chiquitano, Guarayo, Palmela, Baure, Itonama e Cayuvava). A obra serve de testemunha do papel desempenhado por índios de diversas etnias ("brasileiras" ou "bolivianas") como auxiliares na exploração e colonização do território; um exemplo anedótico desta diversidade é o grupo de quatro remadores contratados pela comissão, que incluía falantes nativos de três línguas (Itonama, Baure e Cayuvava).
A contribuição lingüística mais importante da obra é, provavelmente, o vocabulário da língua dos Palmela, cuja inclusão na família Karib (surpreendente, dada sua localização em Rondônia) seria sugerida já pelo próprio Severiano da Fonseca (com base em comparações com vocabulários de línguas como o Galibi, publicados nos Glossaria de Martius (1867)).
Para saber mais:
Meira, Sérgio. 2006. A família lingüística Caribe (Karíb). Revista de Estudos e Pesquisas, v.3, n.1/2, p.157-174.
Métraux, Alfred. 1942. Map of Eastern Bolivia and Western Matto Grosso.
Além de descrever costumes de povos indígenas com os quais a comissão entrou em contato, como os Chiquitano e os Palmela, Severiano da Fonseca inclui vocabulários de várias línguas indígenas faladas no Brasil e na Bolívia (Chiquitano, Guarayo, Palmela, Baure, Itonama e Cayuvava). A obra serve de testemunha do papel desempenhado por índios de diversas etnias ("brasileiras" ou "bolivianas") como auxiliares na exploração e colonização do território; um exemplo anedótico desta diversidade é o grupo de quatro remadores contratados pela comissão, que incluía falantes nativos de três línguas (Itonama, Baure e Cayuvava).
A contribuição lingüística mais importante da obra é, provavelmente, o vocabulário da língua dos Palmela, cuja inclusão na família Karib (surpreendente, dada sua localização em Rondônia) seria sugerida já pelo próprio Severiano da Fonseca (com base em comparações com vocabulários de línguas como o Galibi, publicados nos Glossaria de Martius (1867)).
Para saber mais:
Meira, Sérgio. 2006. A família lingüística Caribe (Karíb). Revista de Estudos e Pesquisas, v.3, n.1/2, p.157-174.
Métraux, Alfred. 1942. Map of Eastern Bolivia and Western Matto Grosso.
Friday, February 26, 2010
Obras de Teodoro Sampaio
Mulato, filho de mãe escrava, o engenheiro baiano Teodoro Sampaio (1855-1937) conquistaria, no entanto, um papel de destaque entre a intelectualidade brasileira na última década do Império e na República Velha. Formado em 1877, participaria de expedições ao sertão nordestino (1879-80) e ao interior paulista (1886), pondo em prática seus talentos como cartógrafo e como observador atento da paisagem natural e humana. Relatos destas viagens, os livros O Rio de S. Francisco e a Chapada Diamantina (1905) e Considerações geographicas e economicas sobre o Valle do Rio Paranapanema (1890) contêm preciosas informações sobre as populações locais.
Teodoro Sampaio interessou-se também pela história, a etnografia e a lingüística. Seu livro sobre o vale do Paranapanema (Sampaio 1890) inclui, além de informações ligeiras sobre os Otí e os Kaingáng, um vocabulário da língua dos Kaiowá, povo com que conviveu mais de perto. Também investigou a posição etnográfica dos antigos "Guayanã" da capitania de São Vicente (Sampaio 1897). Sua obra mais importante, no entanto, seria o estudo toponímico O Tupi na Geographia Nacional (1901), ressaltando o papel dos bandeirantes na difusão de topônimos de origem Tupí. Tendo servido de subsídio (se não inspiração) a autores como Sérgio Buarque de Hollanda, é um livro que -- na opinião do Pe. Lemos Barbosa (1967) -- "apesar de suas fantasiosas 'etimologias', não pode ser estranho a nenhum interessado pelo assunto."
Estas obras de Teodoro Sampaio estão agora disponíveis na Biblioteca Digital Curt Nimuendaju, podendo ser acessadas através da página do autor.
Teodoro Sampaio, desenhista
Vários desenhos e notas de campo resultantes da expedição ao Rio São Francisco permanecem inéditos. É o caso do desenho ao lado, retratando um indivíduo "Procká", "tipo de índio domesticado" (1879). Tais desenhos, acompanhados de observações sobre a população da região (incluindo índios e descendentes de índios), estão contidos nos cadernos de campo do autor, que compõem o Arquivo Theodoro Sampaio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Este material é analisado na dissertação de mestrado de Ivoneide de França Costa (2007), O rio São Francisco e a Chapada Diamantina nos desenhos de Teodoro Sampaio [PDF, 6.39 MB] (Universidade Federal da Bahia/Universidade Estadual de Feira de Santana).
Teodoro e Euclides
Como profundo conhecedor da geografia sertaneja, Teodoro Sampaio forneceria informações cruciais para a obra-prima de seu amigo Euclides da Cunha, Os Sertões. É o que explica Gilberto Freyre (2002) no artigo 'Perfil de Euclides da Cunha' (Revista Brasileira, Fase VII, Ano VIII, No. 30, p. 29-36).
Teodoro Sampaio interessou-se também pela história, a etnografia e a lingüística. Seu livro sobre o vale do Paranapanema (Sampaio 1890) inclui, além de informações ligeiras sobre os Otí e os Kaingáng, um vocabulário da língua dos Kaiowá, povo com que conviveu mais de perto. Também investigou a posição etnográfica dos antigos "Guayanã" da capitania de São Vicente (Sampaio 1897). Sua obra mais importante, no entanto, seria o estudo toponímico O Tupi na Geographia Nacional (1901), ressaltando o papel dos bandeirantes na difusão de topônimos de origem Tupí. Tendo servido de subsídio (se não inspiração) a autores como Sérgio Buarque de Hollanda, é um livro que -- na opinião do Pe. Lemos Barbosa (1967) -- "apesar de suas fantasiosas 'etimologias', não pode ser estranho a nenhum interessado pelo assunto."
Estas obras de Teodoro Sampaio estão agora disponíveis na Biblioteca Digital Curt Nimuendaju, podendo ser acessadas através da página do autor.
Teodoro Sampaio, desenhista
Vários desenhos e notas de campo resultantes da expedição ao Rio São Francisco permanecem inéditos. É o caso do desenho ao lado, retratando um indivíduo "Procká", "tipo de índio domesticado" (1879). Tais desenhos, acompanhados de observações sobre a população da região (incluindo índios e descendentes de índios), estão contidos nos cadernos de campo do autor, que compõem o Arquivo Theodoro Sampaio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Este material é analisado na dissertação de mestrado de Ivoneide de França Costa (2007), O rio São Francisco e a Chapada Diamantina nos desenhos de Teodoro Sampaio [PDF, 6.39 MB] (Universidade Federal da Bahia/Universidade Estadual de Feira de Santana).
Teodoro e Euclides
Como profundo conhecedor da geografia sertaneja, Teodoro Sampaio forneceria informações cruciais para a obra-prima de seu amigo Euclides da Cunha, Os Sertões. É o que explica Gilberto Freyre (2002) no artigo 'Perfil de Euclides da Cunha' (Revista Brasileira, Fase VII, Ano VIII, No. 30, p. 29-36).
Thursday, February 25, 2010
Piratas, canibais — e monstros?
Para os moradores dos primeiros núcleos coloniais na costa brasileira, como Santos e Cabo Frio, a pirataria era ameaça constante. Mas a vida de pirata, por outro lado, também não era nada fácil, a julgar pelos relatos de protagonistas como o inglês Anthony Knivet. Disponível agora na Biblioteca Digital Curt Nimuendaju, a obra 'Notavel viagem que, no anno de 1591 e seguintes, fez Antonio Knivet, da Inglaterra ao mar do sul, em companhia de Thomas Candish' pinta uma imagem um tanto anti-hollywoodiana de pirata: faminto, maltrapilho, infestado de piolhos, vivendo da pilhagem da mandioca alheia.
Eventualmente capturado e escravizado pelos portugueses, vivendo, segundo sua descrição, a pauladas e sob constante ameaça de morte, Knivet acompanharia seus amos em viagens de exploração pelo interior do sudeste brasileiro (e, depois, o nordeste), travando contatos com índios de diversas etnias, como os Tamoyo (entre os quais presenciaria rituais canibalísticos) e os Purí. Assim, além de retratar a colonização portuguesa sob uma pespectiva diferente da habitual, seu relato contém informações úteis sobre costumes indígenas e sobre a localização geográfica de diversas tribos, apesar de algumas passagens pouco plausíveis -- como o encontro com um monstro aquático que "tinha no dorso grandes escamas medonhas e não menores garras e uma comprida cauda, (...) [e] uma comprida lingua qual harpão".
O texto foi traduzido por J. H. Duarte Pereira a partir da versão holandesa, e publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico em 1878.
Leia mais:
Hue, Sheila Moura. 2006. Ingleses no Brasil: relatos de viagem (1526-1608). Anais da Biblioteca Nacional, vol. 126, p. 7-68.
Eventualmente capturado e escravizado pelos portugueses, vivendo, segundo sua descrição, a pauladas e sob constante ameaça de morte, Knivet acompanharia seus amos em viagens de exploração pelo interior do sudeste brasileiro (e, depois, o nordeste), travando contatos com índios de diversas etnias, como os Tamoyo (entre os quais presenciaria rituais canibalísticos) e os Purí. Assim, além de retratar a colonização portuguesa sob uma pespectiva diferente da habitual, seu relato contém informações úteis sobre costumes indígenas e sobre a localização geográfica de diversas tribos, apesar de algumas passagens pouco plausíveis -- como o encontro com um monstro aquático que "tinha no dorso grandes escamas medonhas e não menores garras e uma comprida cauda, (...) [e] uma comprida lingua qual harpão".
O texto foi traduzido por J. H. Duarte Pereira a partir da versão holandesa, e publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico em 1878.
Leia mais:
Hue, Sheila Moura. 2006. Ingleses no Brasil: relatos de viagem (1526-1608). Anais da Biblioteca Nacional, vol. 126, p. 7-68.
Friday, February 5, 2010
Historia Naturalis Brasiliae (Piso & Marcgrave 1648)
Um marco não apenas para os estudos da flora e da fauna, mas também para a etnografia e a etnolingüística dos povos originais do nordeste brasileiro, a obra Historia Naturalis Brasiliae (Piso & Marcgrave 1648) acaba de ser incluída na Biblioteca Digital Curt Nimuendaju.
Produzida sob os auspícios do conde João Maurício de Nassau, quando governador das possessões holandesas no nordeste brasileiro, a obra divide-se em duas partes. A primeira, de autoria do médico holandês Guilerme Piso, trata principalmente de doenças tropicais. A segunda, de autoria do naturalista alemão Jorge Marcgrave, trata da fauna e da flora da região (fornecendo seus nomes indígenas), além de descrever costumes indígenas (incluindo um vocabulário Tupinambá).
Como introdução a esta importante obra, os Cadernos de Etnolingüística acabam de publicar o artigo Alguns comentários à Historia Naturalis Brasiliae, da antropóloga Mariana Françozo (que se doutorou no ano passado na Unicamp com uma tese sobre a circulação de objetos e saberes no Atlântico holandês).
A obra foi digitalizada pela biblioteca do Missouri Botanical Garden a partir de original em sua coleção de obras raras. Para a conveniência do leitor, a Biblioteca Digital Curt Nimuendaju adicionou "bookmarks" para cada um dos mais de 300 capítulos. Para uma breve introdução iconográfica à Historia Naturalis Brasiliae, visite nossa galeria no Flickr.
Produzida sob os auspícios do conde João Maurício de Nassau, quando governador das possessões holandesas no nordeste brasileiro, a obra divide-se em duas partes. A primeira, de autoria do médico holandês Guilerme Piso, trata principalmente de doenças tropicais. A segunda, de autoria do naturalista alemão Jorge Marcgrave, trata da fauna e da flora da região (fornecendo seus nomes indígenas), além de descrever costumes indígenas (incluindo um vocabulário Tupinambá).
Como introdução a esta importante obra, os Cadernos de Etnolingüística acabam de publicar o artigo Alguns comentários à Historia Naturalis Brasiliae, da antropóloga Mariana Françozo (que se doutorou no ano passado na Unicamp com uma tese sobre a circulação de objetos e saberes no Atlântico holandês).
A obra foi digitalizada pela biblioteca do Missouri Botanical Garden a partir de original em sua coleção de obras raras. Para a conveniência do leitor, a Biblioteca Digital Curt Nimuendaju adicionou "bookmarks" para cada um dos mais de 300 capítulos. Para uma breve introdução iconográfica à Historia Naturalis Brasiliae, visite nossa galeria no Flickr.
Wednesday, January 27, 2010
"Matto Grosso": filmes etnográficos da Universidade da Pensilvânia
O Internet Archive inclui em seu acervo vários filmes produzidos pelo Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade da Pensilvânia, alguns dos quais -- The Bororo, Xingu e Warrior Dances -- retratam costumes de tribos indígenas de Mato Grosso (principalmente do Xingu). Produzidos no começo da década de 1940 e destinados ao público geral, os filmes têm talvez mais valor histórico (refletindo as idéias da época e do lugar em que foram produzidos) que etnográfico. Algumas cenas são obviamente ensaiadas e até a indumentária usada por alguns dos indígenas retratados parece suspeita (caso das tangas uniformes usadas pelos Boróro). Algumas informações são, simplesmente, errôneas (como a referência, no filme Xingu, a uma tribo "Tapuya" que habitaria a área de cerrado ao sul do Xingu). O valor informativo dos filmes deve, assim, ser considerado com ceticismo. No entanto, filtrados por uma boa dose de espírito crítico, os filmes podem revelar informações úteis. Em The Bororo há, por exemplo, um pequeno trecho em que um índio explica, em sua língua, como se faz flecha. Considerando-se a raridade de material fonográfico deste período, no que diz respeito a línguas indígenas brasileiras, este tipo de informação pode vir a ser bastante útil.
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