Thursday, February 25, 2010

Piratas, canibais — e monstros?

Para os moradores dos primeiros núcleos coloniais na costa brasileira, como Santos e Cabo Frio, a pirataria era ameaça constante. Mas a vida de pirata, por outro lado, também não era nada fácil, a julgar pelos relatos de protagonistas como o inglês Anthony Knivet. Disponível agora na Biblioteca Digital Curt Nimuendaju, a obra 'Notavel viagem que, no anno de 1591 e seguintes, fez Antonio Knivet, da Inglaterra ao mar do sul, em companhia de Thomas Candish' pinta uma imagem um tanto anti-hollywoodiana de pirata: faminto, maltrapilho, infestado de piolhos, vivendo da pilhagem da mandioca alheia.

Eventualmente capturado e escravizado pelos portugueses, vivendo, segundo sua descrição, a pauladas e sob constante ameaça de morte, Knivet acompanharia seus amos em viagens de exploração pelo interior do sudeste brasileiro (e, depois, o nordeste), travando contatos com índios de diversas etnias, como os Tamoyo (entre os quais presenciaria rituais canibalísticos) e os Purí. Assim, além de retratar a colonização portuguesa sob uma pespectiva diferente da habitual, seu relato contém informações úteis sobre costumes indígenas e sobre a localização geográfica de diversas tribos, apesar de algumas passagens pouco plausíveis -- como o encontro com um monstro aquático que "tinha no dorso grandes escamas medonhas e não menores garras e uma comprida cauda, (...) [e] uma comprida lingua qual harpão".

O texto foi traduzido por J. H. Duarte Pereira a partir da versão holandesa, e publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico em 1878.

Leia mais:

Hue, Sheila Moura. 2006. Ingleses no Brasil: relatos de viagem (1526-1608). Anais da Biblioteca Nacional, vol. 126, p. 7-68.