O Padre Francisco das Chagas Lima (1757-1832), primeiro vigário de Aparecida e vigário de Curitiba, sua terra natal, desempenhou papel de destaque na vida eclesiástica da então capitania de São Paulo. Foi, porém, através de seu trabalho na catequização de dois povos indígenas que seu nome se tornou intimamente associado à história de duas povoações em cuja fundação desempenhara papel essencial: Queluz, na divisa com Minas Gerais e Rio de Janeiro, fundada em 1801 como aldeamento Purí, e Guarapuava (no que é, hoje, o estado do Paraná), criada em 1810 como aldeamento Kaingáng.
Como testemunha e protagonista dos primeiros anos da história de ambas as povoações, Chagas Lima produziu importantes documentos, alguns dos quais seriam publicados postumamente na RIHGB: a 'Noticia da fundação e principios d'esta Aldêa de S. João de Queluz' (Lima 1843), escrita originalmente em 1802, contém, além de detalhes históricos sobre a fundação da aldeia, informações sobre os costumes Purí antes da catequização; a 'Memoria sobre o descobrimento e colonia de Guarapuava' (Lima 1842), concluída provavelmente entre 1827 e 1828, contém, além de uma descrição detalhada do progresso e das vicissitudes do aldeamento, o "primeiro registro publicado sobre a língua Kaingáng", segundo Wilmar D'Angelis (2003).
Especialista em Kaingáng, D'Angelis sugere que Chagas Lima teria sido, também, o provável autor do extenso 'Vocabulario da lingua Bugre', publicado anonimamente em 1852 no mesmo periódico (Anônimo 1852) e que seria, na sua avaliação, "o melhor documento para o conhecimento da língua Kaingang produzido no Brasil no século XIX." Os três artigos, recentemente incluídos na Biblioteca Digital Curt Nimuendaju, podem ser acessados aqui.