A Biblioteca Digital Curt Nimuendaju tem a satisfação de anunciar o lançamento da Coleção Aryon Rodrigues, que reúne uma amostra da produção científica de um dos lingüistas que mais têm influenciado no desenvolvimento dos estudos das línguas indígenas brasileiras. Apesar de não se pretender exaustiva, a Coleção (que deverá ser gradualmente ampliada) visa a ser representativa das contribuições do autor em suas diversas áreas de atuação. Isto se reflete na escolha dos seis artigos incluídos nesta fase inaugural. Um deles, de conteúdo programático ('Tarefas da lingüística no Brasil', 1966), representa os esforços do autor no processo de consolidação institucional dos estudos científicos das línguas indígenas brasileiras; os demais constituem modesta amostra de suas contribuições para o conhecimento da família lingüística Tupí-Guaraní, lidando com aspectos da gramática do Tupinambá ('Morfologia do verbo Tupi', 1953; 'A composição em Tupi', 1951; 'Argumento e predicado em Tupinambá', 1996) e da classificação interna da família Tupí-Guaraní ('Relações internas na família Tupí-Guaraní', 1985; 'A língua dos índios Xetá como dialeto guarani', 1978).
Este último, uma das poucas fontes publicadas sobre o Xetá, tem particular interesse para a lingüística histórico-comparativa, não só por determinar a posição genética do Xetá dentro da família (eliminando a idéia de que o Xetá seria uma 'língua mista'), mas também por ilustrar um caso fascinante em que o uso de locuções descritivas para substituir palavras tabuizadas, a substituição de termos herdados por construções metafóricas inspiradas na mitologia e a ocorrência de processos profundos de mudança fonológica podem contribuir para obscurecer a identificação de cognatos. O artigo 'Relações internas na família Tupí-Guaraní' é, por outro lado, um bom exemplo de como a lingüística histórico-comparativa pode contribuir com áreas afins na resolução de alguns problemas clássicos da etnografia sul-americana, servindo, entre outros propósitos, para questionar a hipótese (devida inicialmente a Couto de Magalhães) da origem "Karijó" dos Avá-Canoeiro, demonstrando que a língua deste povo (cujos remanescentes vivem em Goiás e no Tocantins) pertence, de fato, ao mesmo subgrupo que reúne línguas faladas mais ao norte (o Tapirapé, o Asuriní do Tocantins e o Tembé).
Na criação da Coleção Aryon Rodrigues, a Biblioteca Digital Curt Nimuendaju conta com o apoio do Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília, nas pessoas de Ana Suelly Arruda Câmara Cabral e Lidiane Szerwinsk Camargos. Como sempre, sugestões e comentários são muito bem vindos.