(...) como devo
escrever, a fim de que o homem, não importa quem seja,
emerja das páginas
da história a seu respeito com a força da palpabilidade física
de sua existência,
com a irrefutabilidade de sua realidade semi-imaginária,
com a qual o vejo e
o sinto?
Este é o ponto como
entendo, este é o segredo da questão...
(Maksim Górki, em carta para Konstantin Fedin)
É com
alegria e uma certa apreensão que escrevemos este texto para a Biblioteca
Digital Curt Nimendajú. A alegria se deve ao fato de saber que compartilhamos
uma admiração, quase culto, à figura de Curt Nimuendajú, que aqui dispensa
apresentações – único lugar até o momento onde falamos sobre ele sem preâmbulos.
E apreensão, por nossa abordagem heterodoxa e, antes de tudo pessoal, sobre
este ícone da etnologia.
Um
filme de longa-metragem é uma obra circunscrita em certos limites: duração
rígida, expressão artística&comercial, equipe polifônica, público de massa...
Evidentemente, as variantes são muitas e flexíveis. A abordagem de um tema,
seja em forma de documentário ou ficção, demanda um verdadeiro trabalho de
concisão na etapa da escrita do roteiro e depois, durante a montagem. Mas, uma
vida como a de Curt Nimuendajú é assunto para mil e uma noites. Então, para lidarmos
com esses condicionamentos “roubamos no jogo”: ora simplificando, ora
ampliando, ora estilizando – pensando sempre na preservação da essência. Afinal,
“o papel de toda obra de arte se impõe à necessidade da exposição coerente e
orgânica do tema, do material, da trama, da ação, do movimento interno da
sequência cinematográfica e de sua ação dramática como um todo.”[1]