Tuesday, October 15, 2013

O Serviço de Proteção aos Índios e a desintegração cultural dos Xokleng (1927-1954)


por Rafael Hoerhann

A  tese O Serviço de Proteção aos Índios e a desintegração cultural dos Xokleng (1927–1954) foi elaborada a partir da documentação que localizei na casa de meu tio-avô em São José (SC) no ano de 2001. Este parente pediu-me para receber os novos ocupantes da moradia, que havia sido alugada, pois ele se encontrava em Brasília. Quando lá cheguei, os novos residentes faziam uma faxina e colocavam algumas coisas para queimar na churrasqueira, o que por eles fosse considerado lixo. Entre essas coisas estava um amontoado de papeis velhos, úmido, que cheirava a podridão, devido aos ninhos de baratas e ratos. Eu estava com 24 anos e tinha acabado de me formar em História pela UFSC; pretendia fazer mestrado, mas não sabia em qual assunto. Quando finalmente tive uma das folhas em minhas mãos, percebi que se tratava de um documento acerca do processo de integração do indígena à sociedade regional, postulada pelo governo republicano no início do século XX. Eu não sabia praticamente nada sobre o tema, com a exceção das parcas informações fornecidas pela família e que meu bisavô Eduardo Hoerhann (1896-1976) havia sido funcionário do Serviço de Proteção aos Índios. Porém, imediatamente interrompi o "churrasco" para me apossar da papelada.

Monday, January 28, 2013

Reflexões históricas sobre os conceitos de ‘raça’ e ‘identidade’ no Brasil



por Nelson Sanjad*

O novo número do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (ISSN 1981-8122) apresenta uma excelente contribuição ao debate sobre os conceitos de ‘raça’ e ‘identidade’ no Brasil. O dossiê “Corpos, medidas e nação”, organizado por Vanderlei Sebastião de Souza e Ricardo Ventura Santos (Fundação Oswaldo Cruz), reúne cinco artigos sobre a história da antropologia física no país, que destacam as conexões transnacionais, as adaptações locais e o fundo raciológico das discussões e práticas científicas de final do século XIX e início do XX. Como demonstram os autores, muitos dos que viveram e trabalharam naquela época, como Edgard Roquette-Pinto, José Bastos de Ávila e Álvaro Fróes da Fonseca, dialogaram com seus pares estrangeiros para demonstrar que o Brasil era uma nação viável, isto é, que a mestiçagem predominante no país poderia ser interpretada de maneira positiva, apesar dos preconceitos existentes contra populações negras, índias e mestiças. Alguns antropólogos chegaram a questionar a validade da classificação racial (negros, índios e brancos) e os critérios raciais como chave explicativa dos problemas sociais brasileiros, propondo, em seu lugar, que as condições sanitárias e socioeconômicas da população eram os verdadeiros problemas a ser enfrentados. Conforme esclarecem os organizadores na introdução ao dossiê, são “evidentes as imbricações entre a prática da antropologia física e as questões sociopolíticas que mobilizavam a sociedade brasileira no início do século XX, sobretudo no que dizia respeito à organização do país, ao conhecimento de sua população e às discussões sobre a formação da nacionalidade brasileira”.