por Marcelo Sant’Ana Lemos
A Revista do IHGB, volume 5, impressa em 1843, trouxe em um de seus artigos uma cópia do texto extraído do livro tombo da Freguesia de São João Batista de Queluz, escrita pelo vigário Francisco das Chagas Lima, primeiro pároco daquela localidade, quando ela era ainda uma capela rústica do aldeamento dos indígenas Puri de Queluz, criado em 1800.
No texto que tinha o título “Notícia da fundação e princípios d’esta Aldêa de S. João de Queluz” ele procurava caracterizar o modo de vida dos Puri. Nele temos a explicação do significado do etnônimo Puri ou Pucki, que de acordo com os próprios indígenas queria dizer: gente mansa ou tímida.
No momento que o documento original foi transcrito, para ser feita a versão impressa ocorreu um erro, não sabemos se do tipógrafo ou do sócio do IHGB que copiou o texto que lhe foi passado. Assim o termo Pucki se transformou em Packi, conforme se observa na página 73 da referida revista.
Dessa forma desde 1843, diversos historiadores e memorialistas têm repetido esse erro baseado nessa fonte impressa. Autores como Paulo Pereira dos Reis, que tiveram a oportunidade de consultar o livro tombo original, que se encontra na paróquia de Queluz, não caíram nessa armadilha!
No arquivo e Biblioteca do Instituto de Estudos Valeparaibanos, na cidade de Lorena (SP), que tivemos a oportunidade de visitar em 2010, encontramos diversos documentos, cópias fotostáticas dos originais, versando sobre a história da Aldeia de Queluz. Entre eles estavam as imagens do manuscrito original “Notícias da fundação e princípio d’esta Aldêa de S. João de Queluz” registrado no livro tombo da Freguesia de Queluz.
Reproduzimos abaixo a imagem do original para possibilitar a comparação com o texto da Revista do IHGB, que apresenta o erro tipográfico. Assinalamos com uma linha azul a palavra original correta. Claramente se destaca a letra ‘u’, bem diferente da letra ‘a’ que vemos no vocábulo “palavra” logo a seguir.
No texto do IHGB, que reproduzimos adiante, a mesma passagem com o erro assinalado em vermelho:
Por conta da dificuldade de acesso à fonte original ou a obras que reproduzem o conteúdo correto, mas se tornaram raras como, por exemplo o texto: “Os Puri de Guapacaré e algumas achegas à história de Queluz”, de Paulo Pereira dos Reis, publicado em 1965; na Separata do número 61 da Revista de História, é que encontramos ainda hoje o mesmo erro reproduzido em textos acadêmicos e de divulgação.
Um dos mais recentes foi o de Eduardo Rivail Ribeiro, que em seu texto “O Catecismo Puri do Padre Francisco das Chagas Lima” para os Cadernos de Etnolingüística, volume 1, número 1, de janeiro de 2009, dá ao equívoco tipográfico o status de praticamente a única contribuição linguística de Chagas Lima para língua Puri; que ele encontrou no documento, além do antropônimo Vuti, conforme se observa na nota 4 do seu texto.
No livro Aldeamentos indígenas do Rio de Janeiro, um excelente texto de divulgação sobre os indígenas do Rio de Janeiro, de José Ribamar Bessa Freire e Márcia Fernanda Malheiros, já em segunda edição, pela Eduerj, do mesmo ano do texto de Ribeiro (2009), também encontramos o termo, porém com a grafia aportuguesada para “paqui” (página 15).
Está mais do que na hora de corrigir esse equívoco!
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ReplyDeleteFascinating insight into linguistic evolution! The exploration of the typographical error and persistence of the false ethnonym 'packi' in Puri for nearly 200 years is a testament to the intricacies of language and the importance of historical accuracy in linguistic studies.||New York Residency Requirements for Divorce||New York Divorce Residency Requirements
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