A história é relativamente simples, mas Snethlage a usou para contar sobre suas próprias observações e experiências etnográficas durante sua estada nas florestas da bacia do rio Branco em Rondônia em 1934.
Além de trabalhos científicos e seu livro popular Atiko Y, Emil Heinrich Snethlage escreveu também uma história para jovens. O livrinho Häuptling Tataru: Aus dem Leben eines Wayoro-Indianers ‘Cacique Tataru: da vida de um índio Wayoró’ é a história de um jovem indígena Wayoró que, ao retornar de uma caçada na floresta, acompanhado de seu amigo Pito, descobre que um grupo de índios Tuparí, perigosos inimigos dos Wayoró, haviam ateado fogo em sua aldeia, matado os homens e levado embora as crianças e mulheres que sobreviveram ao ataque. Tataru e seu amigo organizam um ataque com os membros de uma outra aldeia Wayoró contra os algozes, para se vingarem e tomarem as mulheres e as crianças de volta. A história envolve também um amigo Makurap (relacionado aos Wayoró por casamento), um grupo de Arikapú aliado com os Tuparí e um traiçoeiro pajé “Jabutí” (Djeoromitxí). (Essa pequena descrição acaba aqui para não revelar o final da história, que é baseada em um relato verdadeiro.)
A história é relativamente simples, mas Snethlage a usou para relatar suas próprias observações e experiências etnográficas durante sua estada nas florestas da bacia do rio Branco em Rondônia em 1934. Aspectos da vida quotidiana dos povos da região são integrados de maneira coerente no enredo com a descrição de detalhes sobre a estrutura da floresta, de estratégias de caça e da construção de aldeias. Também se explica sobre o preparo da chicha, sobre os rituais de sepultamento, sobre as sessões de pajelança com o uso do rapé e sobre as festas celebradas com músicas de flautas. As belíssimas ilustrações da publicação são de autoria de Karl Mühlmeister.
O livreto é composto por 32 páginas, não há registro da data da publicação. Descreve-se apenas como sendo o n. 30 da série Spannande Geschichten ‘Histórias de Suspense’, publicada de 1935 a 1942 pela editora C. Bertelsmann em Gütersloh, Alemanha. Como o público-alvo à epoca era a Juventude Hitlerista (uma instituição obrigatória para jovens da Alemanha nazista) a maioria das histórias na série celebra o heroismo alemão durante as guerras mundiais. Entretanto, a fim de se diversificar os conteúdos vários números tratam de aventuras heroicas de povos indígenas do mundo inteiro. Como reflexo dos tempos, o exemplar que escaneei para a Biblioteca Digital Curt Nimuendajú (adquirido online) contém um carimbo identificando seu primeiro proprietário, um residente da "Rua Adolf Hitler, 5". Contudo, ressalte-se que Snethlage não era simpatizante do regime nazista. Contada pela jornalista Gleice Mere (2013), a história do resgate de seu acervo científico, preservado quase que por milagre em um conturbado período da história de seu país, é tão carregada de suspense quanto este belo livrinho, Häuptling Tataru.
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